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de todo mal que se disse só pecou quando foi brando

2.10.06

Brasil Crónicas 11


Turistas no Brasil
Um dos grandes prazeres das viagens é ver novas paisagens, novas culturas, novas gentes. Há um prazer adicional injustamente esquecido: ver as mesmas gentes, a mesma incultura a mesma maralha, isto é, o turistame. Todos os povos em viagem transformam-se no chavão mais aflitivo. O Brasil não escapa a esta paisagem rica, diversificada e previsível que é um monte de turista à solta.

I nostri amici italiani
Na Baía, italianos de meia-idade julgando-se ainda ragazzi, aguçam os caninos às mulatas. Andam em bandos pelas praias e pelas ruas com um ar perdido. Julgam que o Brasil vive em Carnaval permanente e que as mulatas, tal como em Cuba, se irão atracar aos seus duvidosos encantos. Como assim não é, andam um bocado aos caídos a tirar fotografias a apalpar o cu às baianas de plástico que enfeitam o centro da Baía. Acabarão, possivelmente, por arranjar uma garota de programa para fazer o gosto ao alterne tropicalista. Quando não, estão em peso nas cerimónias de candomblé vestidos de branco da cabeça aos pés. Quando ao fim de dez minutos constatam que ninguém lhes liga partem enfadados em busca de outro programa, com garota de preferência. Não têm paciência para os orixás e as mães de santo centenárias.

Les routards
Há depois alguns franceses, casais, que julgam que o Brasil é um continente a desbravar cheio de perigos e aventuras. Logo lhes passa a onda de pioneiros e bandeirantes. Regressam desiludidos porque, ao fim da viagem constatam com horror que o país é limpo, funciona, e não foram assaltados. No regresso poucas histórias para contar no escritório. Claro que se indignam pelo facto de que os tupis e demais nativos, apesar do seu apoio incodicional ainda não falam francês. Aliás, ninguém entende os patéticos arremedos de espanhol que debitam. Dizia-me um tipo alternativo de rabo-de-cavalo: O pantanal! Tudo impecavelmente organizado e perfeito. Nem na Europa! Para isso fico em casa a sentado no sofá a manger des chips. Enfim coitados, o Brasil para eles tem demasiado conforto, falta o perigo iminente, a fome e a miséria. Faltam as anacondas enroscadas na cama ou as piranhas a limarem-lhes as unhas dos pés. Falta, no fundo, a experiência limite que o routard tanto gosta, como a súbita subida de adrenalina provocada pela ducha de água fria num país tropical. . Quanto aos ingleses, nem aparecem, pois para eles país onde não se fale inglês não existe.

Turistas tugas
Para terminar convém falar dos portugueses. A maioria está nuns resorts divididos por grupos. Amadora para um lado, Ermesinde para o outro, Charneca da Caparica mais ao fundo. Trocam o garrafão pelo caipira e divertem-se. E ainda bem que é para isso que servem as férias. Depois há os sofisticados (os sôtores e sôs engenheiros com as respectivas senhoras) que passaram do Corte Inglês directamente para as lojas do free-shop do aeroporto do Rio e da Baía. Deve ser os únicos sítios por onde andam quando saem de casa. É aliás um mistério como estão sempre bronzeados. Eles usam sapatos vela sem meias e camisa de riscas de côr forte. As riscas, está provado, adelgaçam as barrigonas (barrigão em brasileiro). Elas usam sabrininhas douradas ou prateadas, tem uma madeixa que lhes tapa a vista, mas não o suficiente para as impedir de se moverem em transe (transe e não transa) de olhar semicerrado como pitons encantadas entre as lojas de pedras preciosas, as lojas de artesanato, as ourivesarias da Stern, e as lojas das sungas, das tangas e dos pareós. Aproveitam os momentos em que os maridos estão ao telemóvel a combinar negócios e jantaradas por trás de farfalhudos bigodes para dar vazão aos cartões de crédito Gold. Isto, claro está, até os maridos darem por falta das madeixas ondulantes e começarem a chamar por elas, cientes que cada minuto sem a esposa sob apertada vigilância sai mais caro que uma chamada transatlântica em roaming. Elas são estupendas, eles são Optimus.

Algures em Porto Galinhas


Cenas dos próximos capítulos: Não se contentaram apenas a cortaram a estrada, como é uso cá, como plantaram hortaliças nas bermas e na própria estrada!

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