Brasil Crónicas 5
Televisão- Dercy, a Casa dos Gordos e o Canal Boi
A televisão no Brasil é tão fascinante que merece o nosso maior reparo. Rangel e a SIC e outros canis privados não inventaram nada. Limitaram-se a copiar os canis (não é gralha) brasileiros em versão bisonha e mole. Os canis brasileiros também enchem os estúdios de palhaços, tipos vestidos de macacos, bailarinas seminuas, cantores de quinta ordem em mau play-back, captam imagens aos tombos para dar o ar de dinamismo e apostam também na mais despudorada vulgaridade. Mas há diferenças subtis.

Em vez da quinta das celebridades ou Big Brother há um perturbante reality show chamado “A casa dos gordos” onde um grupo de anafados tenta perder o máximo de quilos por semana. A expulsão é determinada pela combinação do voto do público e do peso perdido. Analia (ler Analía, por favor) consegue o feito de ficar até ao fim, emagrecer e arranjar um parceiro. Não há limites para a Analía. Mas tudo isto são versões tropicais do que nós por cá temos. Há no entanto um canal temático único e desconhecido no resto do mundo. Aproveito para fazer um apelo à TV Cabo para passar a difundir este canal o mais depressa possível. Chama-se “Canal do Boi”. De que trata? Pensaram os meus queridos amigos? Não trata. Vende. É um canal de televendas, mas de televendas de gado. A emissão divide-se em duas partes não muito distintas. Na primeira aparece uma rês em grande plano com os dados pessoais (enfim, animais): peso, idade, raça, proveniência. Um locutor em voz off vai gabando as qualidades do bezerro. “Reparem nestes quadris. Notem o perfil das culotes!” E conclui com a frase lapidar: “Olhem-me para este animal!” Por baixo desfila o telefone e o preço. Na segunda parte largam um grupo de vacas num pequeno curro. Um pouco como nas nossas touradas, quando o toiro não quer sair da arena e aparece um grupo de vacas para o levar dali para fora. Aqui as vacas entram também de roldão, mas não há touro para seduzir, apenas os eventuais telecompradores. As vacas dão umas voltas ao recinto, tristes e desmotivadas e aparentemente inconscientes da sua telegenia. Mais uma vez no ecrã passam dados técnicos: o peso médio, a fazenda de origem, etc. A voz off desta vez procede a um leilão, lançando alguns suspiros entre os lances. Isto é um bocado difícil de explicar, mas o Canal Boi não é apenas fascinante na sua monotonia. É hipnotizante! E se não fosse o Patrick a segurar-me tinha vindo carregado com alguns novilhos e bezerras. Assim se vê a força da tevê.
Mas não se esteja já a rir porque qualquer dia aparecer-lhe-á isto em directo num canal perto de si: “Cagar da Vaca”. Passo a transcrever do jornal para não dizerem que ando a inventar: “Roleta alentejana. O povo de Terrugem acaba de inventar uma nova modalidade de jogo para animar as festas. Chama-se “Cagar da vaca”. O chão da praça é dividido em quadrículas numeradas,como se fosse um tabuleiro de xadrez sobre as quais se fazem apostas. A quadrícula vencedora é onda a vaca defeca. A regra é simples mas requer paciência. O prémio é a própria vaca.”

Cenas do próximo capítulo - ... em seguida abraçava duas mulheres de biquini, corpulentas e pesadamente maquilhadas onde pendia outro letreiro : “Prostíbulo”
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