TIREM-ME DESTE FILME

de todo mal que se disse só pecou quando foi brando

23.9.06

Brasil Crónicas 4


O Cuecão

O meu primeiro contacto com a televisão brasileira foi traumático. Passo a explicar. Num estúdio uma multidão de pé em delírio incitava três cavalheiros a meter mãos cheias de dólares na roupa interior de Sabrina Sato (Meche Romero local). Sabrina agradada com a atenção ia dançado o samba, vestida apenas com uma reduzida cueca, uma camisete e um boné. Em rodapé acompanhávamos o valor acumulado na cueca de Sabrina. No meu estilo apressado exclamei: isto ainda é pior que em Portugal. Seria um reality show, ou concurso? Seria um tempo de antena ou uma emissão da IURD? Seja como for era para além de mau, pior que ruim. Mas as imagens não me explicavam o objectivo do encher da cueca, como quem empalha colchões. Quem eram os cavalheiro? Qual o motivo desta estranha transacção parabancária? O mistério foi revelado no dia seguinte quando li os jornais. Tinham apanhado em fuga num aeroporto um figurão da política com milhares de dólares em malas bem como guardados na cueca (na própria cueca). O programa do dia anterior era apenas uma reacção a quente (vamos chamar-lhe assim) ao mais recente escândalo financeiro do Brasil: o mensalão. A história passou a ser de e a actualidade. Como em qualquer telenovela “O Mensalão” tem vários enredos paralelos, voltas e reviravoltas, denúncias e confissões. Uma semana depois cartazes mostravam Lula com uma cueca recheada de dólares com a frase choque: Ele sabia! A novela da vida real fez esquecer rapidamente as novelas de ficção, demasiado prosaicas. Entre a novela das oito “Os ricos também choram” e “O mensalão” não havia que hesitar. “O Mensalão” tinha todos os ingredientes para agradar: a justiceira (a juíza Denise), o bode expiatório (Marcos Aurélio), o chantagista, a mulher enganada (Heloísa) e a mulher fiel (Renilda). Num pungente directo assistimos horas a fio, a Renilda de tailleur rosa-choque e cabelo oxigenado a admitir no Congresso as suas muitas e dilatadas faltas de memória. Por contraste, a secretária Fernanda Karina viu, ouviu e anotou e revelou toda verdade aos jornalistas por dois milhões. Pôs o corpo do delito a nu bem com o seu próprio corpo nas páginas da Playboy. Com o dinheiro arrecadado tem a intenção de se candidatar a deputada com o lema: “Antes nua que corrupta!” Ninguém a poderá acusar de esconder fundos de maneio.
Ah. Mas atenção! Há ainda a “portuguese connection”. O alegado financiamento do partido do governo, o PT pela Portugal Telecom. Há ainda as inexplicáveis viagens de Marcos Valério a Lisboa com pessoas que nunca viajaram para encontros que nunca tiveram lugar. Não terá sido confusão do banco quando fez a transferência entre a PT e o PT? Sei lá. Sou eu a querer ajudar.
Mas não se riam com a desgraça dos outros. Logo que cheguei a Portugal li no jornal que o compadre de um dos directores da nossa Polícia Judiciária foi apanhado em fuga com dinheiro de alegado narcotráfico. No carro levava 2,5 milhões de euros guardados em três sacos de adubo. Adubo. Sacos de adubo? É desta forma lavajoca que fazemos lavagem de dinheiro e branqueamento de capitais? Acresce que, as personagens da novela “O Mensalão” são coloridas, inesperadas, enfim bons actores. As nossas figuras telenovelescas, pelo contrário, são tristes, previsíveis e deprimentes. Basta lembrar as mais recentes: “O saco azul” com a inefável Fátima Felgueiras, a minissérie “O apito dourado” com o lamentável Major Dias Loureiro, ou a série dramática que foi (e é ainda) êxito na TV: “a Madeira é do Jardim”. É essa a nossa sina. Corruptos mas tristes. Mas pensem só um bocadinho. Quem na posse integral das suas faculdades quer era ver Fátima Felgueiras nua nas páginas da Playboy? Quem quererá ouvir as confissões do Major vestido de tailleur rosa-choque e cabelo oxigenado. E a Madeira? Infelizmente, Alberto João Jardim no desfile de Carnaval já nos mostrou o seu cuecão. Isso sim foi trauma! Esperemos que para a próxima Carnaval se mascare de saco de adubo. Terá muito mais graça e sem ofender!



Cenas do próximo capítulo "Reparem nestes quadris. Notem o perfil da culote!” E concluiu com a frase lapidar “Olhem-me para este animal!”

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial