TIREM-ME DESTE FILME

de todo mal que se disse só pecou quando foi brando

29.9.06

Brasil Crónicas 7

Brasileirão


Panificadora e Lanchonete S.António - Deus seja louvado - Canavieira

Se a língua portuguesa é dada a diminutivos (obrigadinho, oh coisinha, oh amorzinho, oh miguinha) a sua versão brasileira é dada, dada a dimensão, a aumentativos, direi mesmo ao empanturramento de aumentativos. Aumenta-se por dar cá aquele capim. Começam desde logo com os exemplos óbvios: o povão, o mensalão, o arrastão, o calçadão ou o mítico orelhão (cabine telefónica que, dizem, se assemelha a uma grande orelha - mais um exemplo da realidade mágica brasileira). No comércio os exemplos abundam. O varejão (grande retalhista) e o atacadão (grande grossista) são os eixos por onde se declina o cesto do povão ou o cestão do povo. Mas a fantasia não se limita aos aumentativos. Há produtos que nunca mais se esquecem como sejam a Borracharia Autolegal (recauchutagem de pneus), as imaculadas Sanitas Frígidas (fabricadas em Inglaterra) ou a Funerária Criativa (na entrada de uma favela da Baía). Que haverá de criativo numa funerária? Os arranjos florais, a missa, o féretro, o capricho em vestir o morto, a novidade das anedotas no velório? São marcas cuja leitura oferece espanto, sobressalto e encantamento, onde qualquer pessoa é genuinamente “pega de surpresa”. São casas comerciais como estas que fazem sombra à arrebatadora Salsichinha Fast-Food (mercearia na Baixa do Porto). Os exemplos no Brasil abundam, tal como o Bar do Capitão Pipoca ou o Cais do Zé da Viúva (a geminar já com o restaurante da Ribeira no Porto "A filha da mãe preta"
Por falar em empanturramento, é justamente nos restaurantes que as coisas se complicam. Lá como cá as doses podem ser para duas ou três pessoas e com mais acompanhamentos que o nosso presidente em viagem oficial: arroz, feijão salada, batata, pirão, farofa, entre outros. Rapidamente nos habituamos ao bife acebolado, à típica piza portuguesa, e mesmo aos embutidos (enchidos) e ao creme de leite crocante (leite creme). Passamos a uma relação aprofundada com as surpreendentes moquecas e as insidiosas casquinhas de siri. Chegamos até a encomendar um frango à passarinha (versão local do nosso frango com limão e caldo knorr)). Confesso que hesitámos antes de encomendar o primeiro bóbo. Mas mesmo ganhando alguma confiança fomos incapazes de provar a suspeita rabada, um prato caipira que talvez, quem sabe, corresponda ao nosso cozido a portuguesa. Fizemos vista grossa ao grande cartaz que, por cima do balcão do restaurante, prometia aos mais temerários “Á rabada aos sábados”. Fora encontrado o limite da nossa bravata gastronómica.



Cenas do próximo capitulo: Tire a roupa com sensualidade. Nada de chegar e ir ficando logo nua!

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial