Notícias da Bélgica
Isto é a Bélgica. A Bélgica não é um país. A Bélgica é um concurso de circunstâncias. Mas um concurso com prémio. A Bélgica era, em 1900, o terceiro pais mais rico do mundo depois dos Estados Unidos e do Reino Unido. A Bélgica está há seis meses sem governo. O primeiro-ministro indigitado demitiu-se. O primeiro-ministro demissionário está a formar governo. O ex-primeiro- ministro é simultaneamente futuro primeiro-ministro e está a formar um governo provisório válido até Março. Aí será chamado o outro, o ex-futuro primeiro-ministro demissionário. A Bélgica inventou o surrealismo. A Bélgica inventou também o saxofone e a baquelite.
A Bélgica tem quatro parlamentos e um senado. No Norte vivem os flamengos, de raiz germânica, católicos e de tradição rural. No Sul vivem os valões, latinos, liberais e socialistas, de passado industrial e burguês. O elemento federador da Bélgica não é a coroa do rei, mas sim o cone de batatas fritas com maionese.
A Flandres ganhou dinheiro. A Valónia perdeu dinheiro. Os valões não se dão mal com o vizinho francês. Os flamengos têm horror do vizinho holandês calvinista. Os flamengos votam tradicionalmente à direita e à extrema direita. Os valões votam, por norma, liberal, socialista e ecologista.
Há arrogância a Sul. Há complexos ora de superioridade ora de inferioridade a Norte. Os flamengos deixam que a extrema-direita xenófoba e racista seja a porta-voz das aspirações de autonomia. Vive-se da retaliação, do ressentimento, da chicana e da mesquinhez. Há um concurso permanente de vitimização.
Popeline vê, incrédulo, a besta racista e xenófoba emergir devagar , como as lamas pestilentas num tanque de decantação de uma ETAR. A extrema-direita na Bélgica não foi desnazificada. Se um dia chegar ao poder poderá ser tarde demais. É pena que poucas pessoas vejam isso e que se entretenham com a babugem do vai e vem dos políticos a tentar formar governo num país que só existe realmente no boletim meteorológico.
Em 1830 a independência da Bélgica foi proclamada à saída da Opera. Burgueses inflamados sairam para a rua a gritar pela independencia e pela liberdade. Dias depois nascia a Bélgica. A ópera chama-se La Muette (a muda) de Portici de Daniel Francois Auber. A muda, a que não fala, e não a muda de roupa suja.
Etiquetas: belgicismos
2 Comentários:
Parabéns pelo post!
idem aspas
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