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de todo mal que se disse só pecou quando foi brando

16.11.07

Paula Rego em Madrid

Garante quem sabe que, depois de Bacon e Lucien Freud (o neto do Sigmund), Paula Rego é fundamental na arte moderna figurativa. Popeline concorda. A retrospectiva em Madrid é superlativa.

Estamos lá todos escarrapachados. As carnes, os corpos, o amarfanhar dos tecidos os olhares de súplica e de acusação, o abandono, a resignação, as pernas gordas, os homens amedrontados, os dramas silenciosos, as tragédias sem desenlace.


Pelo preço do bilhete Popeline teve também direito a espectáculo: as reacções dos visitantes. Alguns espanhóis que olham para os quadros como quem olha para Portugal (como coisa rara, no sentido castelhano do termo, absurda e bisonha).

Muitos portugueses em veia excursionista: um ministro à paisana com amigos. "a dar uma saltada a Madrid e já agora vamos lá ver a exposição". A nossa alta burguesia ao cheiro dos Preciados e "já agora vamos lá ver aquela pintora que vive em Londres à Reina Sofia, parece que a exposição está muito jeitosa". Debruça-se sobre os quadros com algum enfado negando a evidência que se estão a ver ao espelho. Olham e não enxergam ou não se enxergam.

O tríptico sobre o aborto clandestino com as meninas de perna aberta em cima das marquesas com as fardas das Salesianas ou do Sagrado Coração é sublime. Assim não pensaram as tias apinocadas de canela fina, carão largo e cabelo ripado. Assim não pensaram as dondocas da pernoca roliça e cabelo esticado, uma década mais novas que os maridos barrigudos e entediados, em deambulatório pelas salas. Foram todos para o evento em casualwear a adejar etiquetas de marcas e a inspirar um suave perfume de cultura e de colónia Puig

Para eles, e ainda mais para elas, a exposição era "gira", as figuras "tão engraçadas" e a pintora "tem tanta imaginação, onde é que ela vai buscar estas coisas?" Pois. Cães de loiça.

O mundo da pintora entrava, literalmente, pelos olhos a dentro. Popeline foi a Madrid em trabalho. Ficou com Paula Rego agarrada ao corpo.

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