Homossexualidade e outros temas fracturantes
Apareceu um sondagem nos jornais indicando que 72 ou 73% dos portugueses são contra as relações do mesmo sexo. Eu não estou preocupado. Não é nada contra mim. Estão apenas contra as poucas vergonhas que se passam cá por casa e às vezes (para quê mentir?) por aí, onde calha, no tapete da sala, na banheira, no estendal da roupa. Acho até bem, pois quando todas as noites vamos para a cama a chinelar as pantufas temos a alegre sensação da transgressão e de estar a chatear o Bispo de Leiria.
Ontem estive na Gay Parade de Bruxelas. Para além de uma lésbica embriagada que insistia em apalpar-me o cu durante a parada não aconteceu nada digno de nota. Pat beijou-me e abraçou-me na rua e em vez de sermos apedrejados ou arrasados ainda nos vieram oferecer preservativos. Atendendo que Pat é o meu legitimo (se lhe chamo esposo é capaz de pedir já o divórcio) não deixa de ser curiosa esta causa-efeito ou casa-enfeite, no caso vertente. Aliás, a vantagem do nosso casamento ser apenas reconhecido na Bélgica e não em Portugal reside no facto de me abrir várias possibilidades de bigamia, o que acrescenta alguma pimenta à nossa legalizada relação.
Porque não estou preocupado com os setenta e tal por cento que são radicalmente ou moderadamente homófobos no meu país? Porque as sondagens padecem de um grave mal: falta de contexto. Valem o que valem e dizem pouco ou nada. Lembram-se da percentagem dos portugueses que queria pertencer à Espanha porque achava que os espanhóis se calhar iam trabalhar por nós e para nós? E os que votaram em Salazar como maior figura da história nacional só para chatear? E os que acreditam que Pinto da Costa é um homem honrado e o Valentim Loureiro foi injustiçado? Qual a percentagem que acha que Frei Hermano da Câmara é um grande homem e um excelente artista? Quantos consideram o Professor Marcelo um homem brilhante, isento e apartidário e que vale a pena ouvi-lo a perorar e a comentar livros que nunca leu? Quantos acham que vamos ganhar o Europeu este Verão? Vá lá! Manifestem-se. Façam o vosso comig out.
Enfim, como quase tudo em Portugal as convicções não são uma questão de fé mas de fézada. A maioria dos portugueses tem impressões sobre as coisas, ou melhor tem "ai mas que impressão!" sobre essas coisas. Eu próprio quando ao beijos a Pat muitas vezes lhe digo: Ai que impressão! Sobretudo quando verifico que se esteve antes a alambazar com uma pratada de ameijoas à Bulhão Pato.
Por falar em percentagens eloquentes, foi Pat que me revelou ontem (ter um intelectual em casa é o que dá) que 12% dos franceses do Sul têm afinidades genéticas com os berberes. Em Portugal são 39%, que bem vista as coisas, é uma grande berberidade.
Etiquetas: post amaricado
1 Comentários:
Uma impressão 'portuguesa' que me foi explicada por dois cavalheiros, há uns anos, durante um jantar: a homossexualidade não é natural, mas será ainda menos natural entre homens do que entre mulheres. Confesso que fiquei impressionada...
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