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de todo mal que se disse só pecou quando foi brando

1.8.07

El Jueves - os limites do humor

A caricatura dos príncipes espanhóis deu azo a várias considerações sobre a liberdade de imprensa e de expressão. A revista esteve nas bancas durante dois dias sem que provocasse engulhos. Foi censurada e retirada de circulação quando foi mostrada nos canais de televisão. Dá substância ao princípio: quem não aparece na televisão não existe.

A ditadura do pensamento único em que vivemos não cerceia a liberdade de expressão. Procede apenas ao filtro dos grandes canais de comunicação. Os blogues não seriam mais importantes que os desabafos no café se não saltassem de vez em quando para as páginas dos jornais ou nas televisões. Os comentários da blogosfera não são incómodos quando revelam verdades ou desmontam escandaleiras, mas sim quando estas passam ao conhecimento geral e, ironicamente, se tornam conversa de café.

A caricatura do El Jueves e de mau-gosto? Claro que sim. Mas ilustra a ideia que o futuro Rei de Espanha não tem a aura e prestígio do pai e não será o rei de todos os espanhóis. O Príncipe das Astúrias é aparentemente mais Caras que Corações. Na caricatura a legenda é feliz. O boneco da Letizia na posição de missionário é infeliz. O que não justifica a censura. Quando o humor tem mao pesada como o boneco do El Jueves não cumpre a sua função. O mensageiro destrói a mensagem.

Após da morte de Diana crepitaram anedotas sobre o acidente. Precisamos de humor em momentos de tensão, de incómodo. Aí os Gatos Fedorentos são geniais quando nos devolvem as misérias nacionais em forma de sketches. Sem eles o quotidiano de muitos, sujeitos a atropelos e humilhações gratuitas, seria seguramente menos suportável.

Poderia fazer um boneco do género com figuras portuguesas? A opção óbvia seria pôr Sócrates a sodomizar o Zé Povinho e com legenda condizente. Seria óbvio, rebarbativo e sem graça. Talvez pôr a Ministra da Educação vestida de cabedais numa situação sado-masoquista com um professor moribundo. Infelizmente ficaria aquém da realidade. Uma caricatura deve ir à frente e não atrás, a reboque.

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