TIREM-ME DESTE FILME

de todo mal que se disse só pecou quando foi brando

10.9.06

Imagens do Senegal

Não, isto não é um serão de diapositivos disfarçado.
É a secção do blog dedicada às viagens, com o título óbvio:


A imagem do cabeçalho é da mítica Zebreira na zona raiana. Foi tirada pelo meu pai nos não tão idos anos cinquenta quando a chegada de um automóvel era ainda uma sensação (a água corrente, a electricidade e os esgotos só chegaram vinte a trinta anos mais tarde). As duas mulheres na foto não estão de boca aberta a olhar o carro só para ficar no retrato. O subdesenvolvimento, na altura, era já ali.


Em três semanas de férias recolhi muitas imagens. Só Deus e a Canon sabem como o digital permite tal bulimia. Assim foi no Senegal. Mais de quinhentas fotos. Muitas impressões, por conseguinte, alguma areia no fundo do saco, várias picadas de mosquito, algum bronze mesmo com protector solar factor 40 e o inevitável souvenir. Ora aqui vai uma linda, tranquila (a bem dizer quase deserta) praia senegalesa.


Mas por aqui nada de original. Esta fica na Langue de Barbarie perto de S.Louis no Norte do Senegal. A mancha ocre na linha do horizonte é a foz do rio do mesmo nome que faz a fronteira com a Mauritânia. Querem agora que vos mostre o resto do typical?
Typical (palavra detestável) reduz o subdesenvolvimento a folclore colorido e os outros, os locals (palavra ainda mais detestável) a figurantes para compor as nossas fotografias de turista ocidental de país mais ou menos rico, mais ou menos industrializado, mais ou menos desenvolvido. Devíamos estar mais atentos a isso pois Portugal ainda está a cavalo nas duas realidades. Ou julgam que já nos livrámos de ser typical e locals? Nem o Durão Barroso se livra inteiramente do estigma. Mas estou-me a desviar. O tema é o Senegal.




Para terem uma ideia o Senegal fica ali para os lados da Africa Negra por cima da Guiné-Bissau. Tem um pouco mais do dobro do território português e tal como nós são dez milhões. A capital é a conhecida Dakar.


Para além do inenarrável Paris-Dakar, sobre o qual terei ocasião de cascar mais tarde, a cidade era, e ainda é, conhecida como a grande metrópole da Africa Ocidental. Como dizia uma amiga: ir de Bissau a Dakar era voltar à civilização. Tal como ir de Lisboa a Paris ou Londres noutros tempos. E, de facto, Dakar é uma metrópole de vários milhões. Há de tudo incluindo pastelarias fantásticas forradas a mármore com segurança à porta, onde se podem comer excelentes eclairs de chocolate, café ou baunilha. Pelo valor do salário mínimo garantido local (mesmo assim não é muito garantido pois para tal é preciso ser assalariado) posso comprar uma dúzia de eclairs assortis numa bonita embalagem com uma fita azul.Posso comprar um bolo de aniversário tamanho médio para o qual todos os ingredientes foram importados, do glacé da fruta até à manteiga, pelo preço puxadote de 30 euros. Cá fora na rua não há mendigos (naquela rua) mas apenas vendedores que ganham a vida a comercializar variadas coisas a 20 e 30 cêntimos a unidade. Contraste é uma palavra que me ocorre. Mas como se sabe (e se não sabem ficam a saber que é assim que os franceses reagem): C'est ça l'Afrique!


Será por isso que os senegaleses se metem nas pirogas e vão a correr para as Canárias. (21 mil desde o início do ano) ? Virâo a fugir à miséria? Virâo na mira da dúzia de eclairs mais em conta? Pois não. A cidade, como de resto todo o país, sofre cortes de corrente diários. A companhia de electricidade foi privatizada em tempos. Adquirida por capitais estrangeiros, parcialmente americanos, segundo consta. Os preços dispararam e parte da população (a que ainda tinha acesso) deixou de ter como pagar a conta da luz. Entretanto a companhia foi renacionalizada, mas porque descapitalizada presta o serviço que agora se vê, ou melhor que não se vê. Ah! As vantagens da liberalização e da concorrência dos mercados como motor de desenvolvimento para os países em vias do mesmo. Ah! as vantagens do neo-liberalismo. Falem-me mais em ajuda ao desenvolvimento.

Mas não é por andarem às escuras de vez em quando que partem os senegaleses. Porque partem então? O Senegal é pobre mas não é miserável. É uma ditadura? Não, por acaso é (e na região é um dos poucos casos) uma democracia. Haverá um conflito regional, tribal? Há sempre. Não? Não. Casamança esta calma (enfim, mais ou menos) e as relações com a Mauritânia foram restabelecidas. Ah! Verifica-se um conflito religioso entre animistas, muçulmanos e católicos? Não, por acaso também não. Conflitos religiosos é mais por cá entre fanáticos católicos e muçulmanos. A maioria dos senegaleses com quem falei olha até para a nossa fractura e imcompreensão religiosa com enorme perplexidade. A sociedade estará a perder a sua estrutura? Há uma crise de valores? Deu-lhes uma febre consumista? Querem hipermercados, eclairs e mais pastelaria fina? Que eu desse conta não. Ah! Já sabem! A insegurança, o crime a violência. Lamento desapontar-vos, mas também não me cheira que podem ir por aí. Dificilmente o país poderia ser mais seguro e as pessoas mais cordias, fora os gosmas do costume que sempre há nos locais turísticos. Então o que é que essa gente cá vêm fazer? Isto está tão mau, mesmo para a gente (a gente somos nós por oposição a essa gente) .

A resposta está sempre nas imagens. Logo mostro o resto.

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