TIREM-ME DESTE FILME

de todo mal que se disse só pecou quando foi brando

4.4.08

10 dias em Portugal


Primeiro dia
Lisboa. Estou indisposto. Vou ao Bonjour comprar um peixinho para cozer. Vou com um fato de treino e sapatos vela à falta de melhor. Com um pouco mais de energia teria ido passear para o Colombo e acabar de vez com a minha dignidade.

Segundo dia
Atravesso a Baixa para comprar roupa. Sou abordado dez vezes (10!) no espaço de 20 minutos por senhores aciganados a propor barras de chocolate que vendem como droga. Por onde anda a ASAE?
Terceiro dia
Visito a exposição temporária na Gulbenkian. Já não é de borla.

Quarto dia
Leio o artigo do Pacheco Pereira no Público a defender a guerra do Iraque e alegando que Bush foi enganado e agiu de boa fé. Volto à banca para devolver o jornal. Foi engano. Este tem pelo menos cinco anos.

Quinto dia
Finalmente percebo que as imagens que passam ininterruptamente nas televisões não são de um pas-de-deux entre duas paraplégicas mas sim um conflito entre a Carolina e a Micaela por causa de um telemóvel.

Sexto dia
Há qualquer coisa de museu a céu aberto no meu país.
Sétimo dia
Comentam-se piercings e cães perigosos. Podiam ter discutido corrupção, os atentados ambientais ou urbanos, enriquecimento ilícito ou as bolsas de pobreza. Mas não. O poder dos grandes grupos económicos abafa todas os níveis de jornalismo. Mais uns que acham que isto não é um país mas uma coutada.

Oitavo dia
Na Caparica compro um óculos de sol a uma vendedora brasileira de uma loja chinesa cujo patrão obviamente não sabe dizer duas seguidas. Um dia chegarei a casa e encontrarei uma loja chinesa na dispensa. A Zézinha Nogueira Pinto pretendia fazer um Chinatown. Não é preciso. O comércio em Portugal já está reduzido aos bazares chineses.
Nono dia
Em Mil Fontes tomo banho de mar. Tenho as pernas com uma bonita cor roxa alusiva à época pascal.
Décimo dia
Parto cedo para Bruxelas. Encontraram duas malas esquecidas no terminal da Portela. Accionam com invulgar moleza o plano de emergência. Fecham o aeroporto aos bochechos. Instala-se o caos. As malas esquecidas são destruídas duas horas depois com petardos e sem pré-aviso, sabendo a segurança do aeroporto que numa multidão compacta e ansiosa não há cardíacos nem acessos de pânico das massas. Chego a Bruxelas à hora em que se deitam as galinhas e os belgas.

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4 Comentários:

Às sábado, 05 abril, 2008 , Blogger jcsmadureira disse...

Belo retrato da pátria que já foi lusa, que a tantos serviu de musa e que agora já nem dá "tusa".

 
Às terça-feira, 08 abril, 2008 , Blogger Sofia C. disse...

Ola Popeline,

Gosto de te ler mas confesso que nao alinho neste teu miserabilismo. Fiquei a saber que utilizas Chinatown como um insulto.Curioso... Um pouco estranho para quem se indigna com os desvarios anti-esquerdistas do governo sueco (que também acho preocupantes). Desculpa a franqueza, mas resolvi deixar aqui a minha opiniao. Sofia

 
Às quinta-feira, 10 abril, 2008 , Blogger popeline disse...

E fizeste bem Sofia. A crítica é sempre bem vinda. Não creio ser miserabilismo, mas alguma fartura de ver as pessoas no meu país tristes, acomodadas e resignadas. Talvez seja uma questão geracional. Para miserabilismo à séria basta ver alguns trechos do documentário "Portugal, retrato social" de António Barreto. Já Chinatown não é aqui de forma nenhuma um insulto. Talvez o termo mais correcto seja bazar chinês. Assim será corrigido o texto, para evitar mal-entendidos. A culpa não é dos chineses, obviamente, mas dos portugueses que não tiveram pedalada para reanimar o comércio tradicional sobretudo nos bairros populares. Isso sim um caso de miséria. São constatações, mesmo que superficiais, mas não apreciações ideológicas.

 
Às quinta-feira, 10 abril, 2008 , Blogger Sofia C. disse...

Olá Popeline,

Sou eu outravez:-) Obrigada pela resposta, compreendo o que dizes e concordo. Sofia

 

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