TIREM-ME DESTE FILME

de todo mal que se disse só pecou quando foi brando

22.11.06

para além do Equador

Recebi por mail esta "pequena nota crítica sobre" o incontornável "Equador". Obrigado

Querido Chico da Popeline,

Mulher de boa vontade, de grande esspirito ecuménico, conhecedora de Africa e, que é o que mais nos interessa, de S. Tomé, li o livro que MST cometeu.
Como qualquer leitor mais ou menos atento, também eu fiquei escandalizada com a insuficiência gramatical, a pobreza estilistica e a manifesta incapacidade narrativa e dramatica do autor…Mas, suponho, sobre tudo isto já muito foi dito.

Do que não se falou foi de algo, a meu ver muito pior : do sibilno e soez racismo do autor.
MST jornalista até parece ser um tipo progressista e sem preconceitos. Mas, quando a imaginação romanesca se desencadeia, o que lemos ? Um livro sobre a emancipação do contratado ? Claro que não ! Quem quer saber de pretos, mestiços ou forros nesta historia ?!
Assistimos, isso sim, a um verdadeiro choque de titãs entre o iluminado Luis Bernardo (volta Damaso Cândido Salcede, mesmo teu nome te foi perdoado !) e um verdadeiro lord inglês que só a perfídia indiana podia ter condenado ao desterro são tomense.

Que os indianos, claro esta, são atavicamente hipocritas, geneticamente pérfidos. Defeitos que só aumentam (grandes ingratos ! Outra caracteristica racial…) quando têm o privilégio de gozar das benesses e da refinada educação de sua Graciosa Majestade. É isto que faz com que o irrepreensivel governador inglês venda os castiçais da coroa e seja desterrado para S. Tomé…

Há ainda a salientar, no capitulo indiano, as bizarrias do poder e sua pantagruélica sexualidade. Mas, mesmo neste aspecto, a superioridade inglesa se faz sentir : o victoriano inglês tém como esposa a egéria do Marco Paulo : « uma lady na mesa, uma louca na cama » ! E isto no país do Kama Sutra, que a gente não recebe lições de ninguém !

Passemos a S. Tomé e aos contratados (razão aparente desta historia). Luis Bernardo encontra dois, durante uma enchurrada, naquela postura de submissão canina à espera do Deus branco que lhes traga a liberdade…

A não ser o subserviente mordomo (a voz do dono) nenhum preto tém direito à palavra. Mas Luis Bernardo « defende-os » no mais improvavel dos processos jamais impresso em centenas de milhar de exemplares !

E ele que, com o apoio do magnifico cônsul britanico (a quem vai regularmente « comendo » a libidinosa e desinibida esposa em cenas de um erotismo do mais piroso e disparatado) tão altruisticamente arranca o preto Gabriel das garras dos roceiros do Principe, como vê retribuida tão nobre acção ?

O filho da puta do preto salta para a espinha da esposa do consul britânico e amante do governador de Portugal naquela colonia !

É bem sabido, pretos nã pensa, pretos nã fala mas têm entre pernas o que os elefantes têm entre as preciosas presas de marfim…

Este estupido fantasma sexual tém uma boa consequência : Luis Bernardo suicida-se. Porque não o fez 400 paginas antes ? Ter-nos-ia poupado um péssimo romance e a perturbadora certeza de que ainda há quem acredite no « fardo do homem branco ». Palavras para quê ? É um artista português, não sei se usa pasta medicinal Couto, mas cheira mal da escrita e cheira mal da mente.

Maria Antónia

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