José António Saraiva -faça chuva ou faça sol

José António Saraiva escreve em sistema binário. Ou isto ou aquilo. Ou é ou não é. Pode mas não pode. Ou chove ou não chove. Se chove há chuva, se não chove faz sol. O Sudoku desenvolve argumentos mais sofisticados e com mais interesse.

Um crítico do Mil Folhas revelou-me que JAS também escreve ficção. As Herdeiras de Adriano Gentil é o seu mais recente romance. Aparentemente um romancista de primeira água (quando chove). Infelizmente para JAS, a crítica literária deixou de servir apenas para retribuir favores e mandar recados. A crítica nos jornais deixou de ser gongórica no elogio e bizantina no arraso. Pelo excelente texto do crítico só temos que agradecer a JAS . Bem-haja !

A badana do livro avisa: Adriano Gentil, empresário de sucesso, deixa todos os bens às cinco mulheres da sua vida. Quando o testamento é aberto, ficam a saber que têm de gerir em conjunto uma fortuna inesperada, mas reféns de uma condição: não voltar a amar.

Já sabemos por Le Carré que todo o romancista faz da sua personagem principal uma metáfora da sua própria vida, ou seja depois de JAS o deserto ou a chuva, ou o sol. Enfim, por aí.

Eu não li (cruzes) As Herdeiras de Adriana Gentil, mas histórias das mulheres na vida de um homem lembram sempre os inventários que as farmácias fazem no Outono. Quando será que os homens entrados (piedosamente chamada a meia-idade) deixam de fazer balanços da vida quando já lhes falta o balanço? Já basta o dueto To All The Girls I've Loved Before do Willie Nelson de voz nasalada e o canastrão do Julio Iglésias. Não precisávamos agora disto.

JAS, por favor, pinte aguarelas, faça jardinagem ou macramé. Mas, por amor de Deus não escreva as suas memórias reais ou ficcionadas. Porque quando chove só há duas hipóteses. Ou chove no seco ou chove no molhado. Tire-nos desse seu triste filme!